segunda-feira, 7 de outubro de 2024

Refletindo sobre Fernando Pessoa - Se te queres matar, porque não te queres matar?



A vida é a ilusão contemporânea de exclusividade e perenidade que de forma contumaz ignora a sua sazonalidade.

 

Pobre vaidade de carne e osso chamada homem, é o diz o poema de Fernando Pessoa, sábias palavras não foram ditas atoa!

 

Ao ler seu poema desisti de morrer, ao saber que sou fútil o quanto o homem é inútil desisti de viver, e uma pergunta retorica silenciosa carcome o meu subconsciente, qual dedo na ferida isto me é deprimente, ó sombra fútil chamada gente!

 

Se te queres matar, porque não te queres matar?

Ah, aproveita! que eu, que tanto amo a morte e a vida, se ousasse matar-me, também me mataria...

 

Ao ler o que penso não me entenderia, se nem mesmo eu me entendo opacamente compreendo o parco momento que estou vivendo.

 

De que te serve o teu mundo interior que desconheces? Ignoras ou fingi não existir uma vida dalém, se fazes um, porém, porém eu também entendo a efemeridade que eu não compreendo.

 

Talvez, matando-te, conheças finalmente, que sempre fostes morto o que poucos compreendem.

 

Talvez, acabando comeces, de qualquer forma, se te cansa seres, ah, cansa-te nobremente, enganando e enganado tu enganas também.

 

Fazes falta? Ó sombra fútil chamada gente!

Ninguém faz falta; não fazes falta a ninguém, pois sem ti correrá tudo sem ti.

 

Talvez seja pior para outros existires que matares-te, talvez peses mais durando, que deixando de durar...

 

A mágoa dos outros?... Tens remorso adiantado, de que te chorem?

 

Descansa: pouco te chorarão...

O impulso vital apaga as lágrimas pouco a pouco,

 

Quando não são de coisas nossas, quando são do que acontece aos outros, sobretudo a morte, porque é a coisa depois da qual nada acontece aos outros...

 

Primeiro é a angústia, a surpresa da vinda, o mistério e da falta da tua vida falada, vivemos o preludio a vida aqui não é nada, no máximo cem anos e a metade forçada!

 

Depois o horror do caixão visível e material, e os homens de preto que exercem a profissão de estar ali.

 

Depois a família a velar, inconsolável e contando anedotas, lamentando a pena de teres morrido, densas lágrimas em vão, pois se hoje sei choram amanhã sorrirão!

 

Tu verdadeiramente morto, muito mais morto que calculas, muito mais morto aqui que calculas, mesmo que estejas muito mais vivo além...

 

Depois a trágica retirada para o jazigo ou a cova, e depois o princípio da morte da tua memória, há primeiro em todos um alívio, da tragédia um pouco maçadora de teres morrido...

 

Depois a conversa aligeira-se quotidianamente, e a vida de todos os dias retoma o seu dia, depois, lentamente esqueceste.

 

Só és lembrado em duas datas, em nascestes e morrestes, haverá quem pergunte, se realmente vivestes.

 

E uma ou outra vez suspiram se por acaso se fala em ti, encara-te a frio, e encara a frio o que somos, e por vivamos, somos, uma coisa que fala dentro de outra coisa que anda, que não andava ao nascer, mal andarás ao morrer!

 

Se queres matar-te, mata-te...

 

Não tenhas escrúpulos morais, receios de inteligência, assim assumirás, vulnerável essência tão proscrita consciência...

 

Ah, pobre vaidade de carne e osso chamada homem, não vês que não tens importância absolutamente nenhuma?

 

És importante para ti, porque é a ti que te sentes, és tudo para ti, porque para ti és o universo!

E se és assim, ó mito, não serão os outros assim?

Se assim amas a vida materialmente, tão obstinadamente, egocentricamente, se amas mais a ti mesmo em detrimento de alguém paradoxalmente não amas a mim nem a ti não amas a ninguém!

 

Torna-te parte carnal da terra e das coisas!

Pela noturna consciência da inconsciência dos corpos,

Destes corpos tão vivos e tão mortos destes seres tão certos e tão tortos, desta frágil matéria efêmera etérea no mundo seguem corpos profanos imundos que vivem a eternidade em segundos.

 

 

 


Porque Deus amou ao mundo de tal maneira que deu seu filho unigênito, para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna. -João, 3:16-

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